segunda-feira, 30 de junho de 2014

Filosofando...
O luto contém a morte de quem o sente. Uma parte de nós morre com o outro.
Nunca poderemos conhecer as pessoas com quem nos relacionamos. Abaladora constatação feita pela análise minuciosa do conhecimento. Não podemos saber tudo sobre uma pessoa, seu passado, seu pensamento, seus desejos e fantasias mais íntimas. Os outros sempre serão uma incógnita. Se não sabemos o que realmente acontece em nós quando o mundo nos afeta, imagine tentar descobrir no que o mundo transforma diariamente aqueles de quem gostamos...
Mas como podemos amar quem não conhecemos? Como sempre fizemos, criando expectativas sobre o outro e nos relacionando com essas expectativas. No amor, transferimos parte das nossas fantasias e afetos para uma pessoa. A imagem material percebida pelos sentidos serve como suporte para as representações que fazemos da pessoa querida. Referências afetivas do nosso passado se sobrepõem a cada nova pessoa com quem nos relacionamos. Damos uma parte de nós a ela.
Por isso  as dores que sentimos quando da perda de quem amamos são sentidas como se fossem dores em nós mesmos. E o são. Quando se perde alguém, perde-se a si próprio. E o outro morre em nós. No luto quem morre é a nossa fantasia, nossa representação, e não o mero corpo de quem gostamos.
O luto não é a morte em si mesma, ou ou fora, no mundo: é a morte em nós. Porém não há necessidade da morte em si para que se sinta o luto.